Faço das palavras de Wanderley Filho as minhas...
Um sigolismo é feito a partir de duas premissas - uma maior e outra menor - que inferem ou resultam numa conclusão. Uma mentira bem construída geralmente mistura uma premissa falsa com uma verdadeira, de forma a dar verossimilhança a uma farsa. Para saber mais a respeito, uma dica é o livro Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão, de Arthur Schopenhauer (ver imagem ao lado).
Pois bem. Uma matéria dos jornalistas Fernando Rodrigues e Fábio Zanini na Folha de São Paulo desta quinta-feira afirma que o senador cearense Tasso Jereissati (PSDB) utilizou verbas do Senado para viajar em jatos fretados. É a premissa maior, verdadeira. Houve o frete e a fonte foram verbas oficiais. A reportagem também afirma que Tasso fez uso indevido do referido expediente pois possui um avião particular. É a premissa menor, parcialmente falsa, porquanto sugere que tratar-se de um ilícito, além de fazer alusão a um elemento irrelevante para comprovar se houve algo errado: o fato dele ser proprietário de uma jato. No conjunto, o leitor é levado a concluir que Tasso usou dinheiro público para se beneficiar de forma irregular.
A matéria diz ainda que o frete era proibido. A direção do Senado desmentiu a informação. A rigor, NÃO EXISTE DIFERENÇA LEGAL OU MORAL ENTRE PAGAR UM AVIÃO DE CARREIRA E FRETAR UMA AERONAVE, desde que não se ultrapasse o valor permitido. Portanto, não se trata de ação ilegal, como foi sugerido. Resta ainda o aspecto moral. Nesse caso, a verdade é que o tucano gasta menos que os colegas quando o assunto é passagem aérea, pois na maioria das vezes ele viaja em seu próprio avião, dispensando as passagens a que tem direito. Ou seja, computados os gastos - foram sete viagens em seis anos - o senador cearense gastou menos do que poderia.
Na prática, considerar esse caso um escândalo corresponde a dizer que os senadores Inácio Arruda ou Patrícia Saboya, ou qualquer outro parlamentar, cometem um crime quando compram passagens em aviões de carreira com “dinheiro público”, quando poderiam não viajar ou pagar pelo transporte com recursos próprios. Onde está o escândalo?
Ação de desmoralização do Legislativo e da oposiçãoNão sou advogado do senador e ele não precisa de mim para nada. Eu poderia tratar de outros temas e ignorar o assunto, e ainda corro o risco de ser acusado de ser tendencioso, de ser criticado pelos progressistas isentos do nosso jornalismo, etc. Ocorre que o patrulhamento nunca me fez ter medo de assinalar o que considero uma injustiça. E, no presente caso, considero que as insinuações imputadas a Tasso são injustas. Mas isso não é o pior, e aqui vai o motivo deste post. Cabe sinalizar um quadro geral presente e ativo na política brasileira, que lançando, seletivamente, boatos sobre figuras da oposição.
No fundo, esse é mais um capítulo de uma ação sistemática contra o Senado, não por acaso, a insituição que mais oferece resistência às vontades do Planalto. Um legislativo frágil corresponde a um Executivo mais voluntarioso, com mais autoridade perante o público, e com menos controle. As denúncias que vazam da Casa para setores da imprensa chocam os mais inocentes, mas não há nelas nada de singular que não seja também praticado nos ministérios ou tribunais do país. A suposta denúncia contra Tasso não passou de um truque, de um jogo de palavras e insinuações. Foi um recado para a oposição que, aliás, tem experimentado estranhas investigações da PF. Há nisso tudo um clima que lembra o chavismo.
( Blog do Wanfil)