sábado, 4 de setembro de 2010

Detalhes que não aparecem nas pesquisas eleitorais

Por Wanderley Filho - Da Redação em: Artigos de opinião 21:50


Na última consulta Ibope realizada no Ceará para as eleições ao governo do Estado, encomendada pelo Sistema Verdes Mares e registrada no TSE sob o número 27049/2010, é possível ver as cidades visitadas por seus pesquisadores, conforme determina a lei. Após a divulgação de uma consulta dessas, as discussões geralmente gravitam em torno dos números fechados. No entanto, nunca é demais olhar de perto a confecção dessas consultas. Como eles abordam os entrevistados? Como escolhem as cidades pesquisadas? Como redigem as perguntas? São informações que podem ajudar a compor o cenário e a realidade avaliadas.


Por exemplo, das 1204 entrevistas realizadas pelo Ibope, 42 foram em Caucaia, que tem 317 mil habitantes e fica na Região Metropolitana de Fortaleza. Em Sobral, com 177 mil habitantes, situada na Região Norte do Estado e terra de Cid Gomes, 28 pessoas foram entrevistadas. Já em São Gonçalo do Amarante, cidade de Lúcio Alcântara onde vivem 40 mil pessoas, 7 moradores foram ouvidos. No entanto, dos 53 mil habitantes de Boa Viagem, no Sertão Central, cidade base do candidato Marcos Cals (PSDB), nenhum teve a satisfação de responder o questionário do Ibope, pois o município não foi relacionado na amostragem.


Tudo bem, ser colégio eleitoral de candidato ao Executivo não deve ser critério válido. Isso serve para fechar a aritmética, mas no mundo das sensíveis variantes políticas, essas diferenças podem influenciar bastante. O desenho formado pelos 58 municípios avaliados pode ser diferente nos que ficaram de fora? Se a posição política dos prefeitos das cidades abordadas mudar, muda o resultado? Certamente que sim.

Questionário


Outro ponto interessante nas pesquisas é o questionário apresentado aos entrevistados. No Datafolha, o pesquisador é direto: se apresenta, colhe dados socioeconômicos e indaga em que candidato o sujeito irá votar, sem mais rodeios. Já no Ibope, a primeira pergunta não tem nada a ver com eleição:


“1) Para começar, como o(a) sr(a) diria que se sente com relação à vida que vem levando hoje?”


Resta evidente que as respostas para essa questão podem determinar o estado de espírito de quem responde. O eleitor pode simpatizar com as propostas de um candidato, mas depois de ponderar, estimulado pelo pesquisador, que sua vida é estável, por exemplo, pode optar por uma posição conservadora e diante da lista de opções, escolher a continuidade.


Não afirmo que existam manipulações. Apenas lembro que pesquisas eleitorais não são produtos de ciências exatas. Elas existem no universo das probabilidades, das tendências. A técnica pode conferir maior ou menor segurança à informação. Mas sempre é possível que a realidade não seja exatamente aquela do “retrato de um momento”.


Fonte: Anuário do Ceará e TSE

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