"Mesmo aparecendo em segundo lugar na mais recente pesquisa eleitoral, com 16% das intenções de voto, atrás apenas do governador José Serra (46%), o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) afirmou ontem que abre mão da disputa se o governador Aécio Neves for o candidato do PSDB à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “(A candidatura de Aécio) é uma grande coisa para o Brasil; nesse caso não preciso mais ser candidato”, afirmou Gomes, ao lado do prefeito e correligionário de partido Márcio Lacerda. Ciro Gomes não pôde, porém, visitar Aécio no Palácio da Liberdade, pelo fato de o governador estar cumprindo agenda no Rio de Janeiro. Nos próximos dias Aécio fará sua segunda viagem ao Nordeste pelas prévias tucanas, em evento que está programado para a capital do Ceará, Fortaleza. “Lá, ele sempre será bem recebido”, avisou. A tese de Ciro Gomes é que “Aécio Neves é de linhagem que sempre fez bem ao Brasil”. Nessa linhagem ele inclui o avô de Aécio e ex-presidente da República Tancredo Neves, o governador de Minas Gerais nos anos 1930, Antônio Carlos de Andrada, e o presidente Juscelino Kubitschek. “E ele se sentava na cadeira do Aécio (no Palácio da Liberdade)”, lembrou. “Na revolução modernizadora dos anos 30, quem estava à frente era Antônio Carlos e não Getúlio (o então presidente da República) — e ele se sentava na mesma cadeira do Aécio”, prosseguiu. “Tancredo ajudou a sair da ditadura — e se sentava na mesma cadeira do Aécio”, acrescentou, concluindo: “É uma linha que ajuda a distensionar o quadro”. Ciro registrou que no episódio do mensalão, “quando o PSDB escalou a crise para tentar derrubar o Lula, o Aécio foi contra isso”. Ciro fez questão de registrar: “Ele (Aécio) é um ótimo candidato; mas, como presidente, ainda está para provar”, ponderou. Máquina Ciro atenuou o resultado das pesquisas que o classificam em confortável segunda posição, mas que tem dado a Aécio menos que 10% das intenções de voto. O deputado entende que elas ainda não traduzem a realidade. Para ele, as pesquisas atuais não são neutras, pelo fato de terem como referência a notoriedade dos pesquisados. Ou seja, quem mais esteve na mídia é sempre mais lembrado, pelo fato de o eleitor seguir “as pistas da notoriedade”. O temor de Ciro Gomes é que Aécio seja “triturado” pela máquina comandada por José Serra — e justificou essa possibilidade com seus 30 anos de experiência política. “Ele (Serra) não tem limites”, atacou. “Se ele (Aécio) conseguir superar isso…” Ciro acusou Serra de ter promovido “a maior irresponsabilidade fiscal” de todos os tempos no Brasil, razão que o teria levado a romper com o governo Fernando Henrique Cardoso. “O Brasil tinha consolidado uma dívida pública de 38% do PIB e, quando o Serra terminou a tarefa (de ministro do Planejamento), a dívida saltou para 78%”, afirmou. Ciro Gomes acredita que o presidente Lula não vai conseguir manter a atual aliança partidária que apoia seu governo. Mas disse que é amigo da ministra Dilma Rousseff e que não vai enfrentá-la — só dividir o debate de ideias, pois o momento é de aparecer um novo candidato que o faça. “Se alguém não expressar essas ideias, eu vou querer ir para o debate.”
(Correio Braziliense)